O BRASIL E O BRICS NO G-20

30/08/2019 14:17

Por Danilo Sorato, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).


Em 28 de junho deste ano, aconteceu a cúpula do G-20 em Osaka no Japão. O evento foi mais um teste para a Política Externa do governo Bolsonaro. A possibilidade de contatos com diversos líderes mundiais é fundamental na efetivação dos objetivos internacionais. Algumas informações na imprensa brasileira, afirmaram que Xi Jiping, presidente da China, Vladimir Putin, presidente da Rússia e Narendra Modin, presidente da Índia, pretendiam fazer uma reunião paralela para tratar de alguns temas, inclusive questões relativas ao BRICS. 

A não participação do Brasil chama atenção, pois esse ano assumiu a presidência temporária do BRICS. Após algumas fricções de campanha eleitoral, a Política Externa de Bolsonaro tem buscado articular sua posição no agrupamento pela busca de aspectos econômicos, como investimentos e crédito para o desenvolvimento. Como mostra Cyril Prinsloo em seu artigo ‘Bolsonaro and the BRICS: Bull in a china shop?’, os temas prioritários são comércio e investimentos, a crise da Venezuela e financiamento de dinheiro pelo Banco de Desenvolvimento.

O foco do país em relação ao BRICS são medidas de natureza macroeconômicas, acesso a mercados e captação de investimentos externos, via Banco do BRICS e tornam-se possibilidades da manutenção da cooperação do país com seus sócios, como defende Irina Maximovna Popova em seu texto ‘Brazil’s 2019 BRICS Presidency: What to Expect form the Start of a new Decade of Cooperation and the J. Bolsonaro’s Administration’. Assim como, especificamente, uma cooperação em setores agrícolas e no combate à corrupção, ambas plataformas de campanha eleitoral de Bolsonaro.

A pouca pretensão política é uma escolha consciente da Política Externa de Bolsonaro, já que sua aproximação estratégica com os Estados Unidos impedem a manutenção de agendas revisionistas da ordem internacional. Como diz Gilberto Libânio em seu escrito intitulado ‘Bolsonaro e os chineses: uma sugestão de interpretação’ a posição brasileira tem se afastado dos países do Sul Global e ações diplomáticas, como o BRICS, sobretudo pelo tom agressivo durantes as eleições presidenciais brasileiras.

A subida ao poder em 1 de janeiro fez com que as mensagens agressivas fossem diminuindo paulatinamente, especialmente pelas tentativas do vice-presidente, Hamilton Mourão, em apaziguar possíveis conflitos com os chineses. Ele viajou para o país asiático em maio na V Reunião Sino-Brasileira de Concertação e Cooperação (BCOSBAN), com a finalidade de diminuir tensões e reafirmar o compromisso brasileiro com a China.

Apesar disso, Bolsonaro, ainda não viajou para aquele país, mesmo que seja o principal parceiro comercial brasileiro. Ao contrário, fez viagens em março para EUA, Israel e Chile. As escolhas reafirmam suas promessas de campanha, e afirmam o foco da sua prioridade, a relação bilateral com países ocidentais.

Além disso, a pauta econômica é critério fundamental para a escolha das parcerias. Como defende Danilo Sorato em seu trabalho ‘Uma análise de política externa brasileira: A continuidade dos governos Temer e Bolsonaro’ a Política Externa de Bolsonaro mantém um traço de seu antecessor, Michel Temer, ao procurar superar as crises econômicas internas com relações exteriores focadas na agenda econômico-comercial. Por essa posição, não é um acaso a tentativa de aproximação com os EUA para entrada na OCDE, objetivo criado pelo antecessor, bem como o distanciamento das pautas políticas no BRICS. O que se busca são os benefícios da ordem internacional estabelecida e não a sua alteração, como pauta o agrupamento sulista.

A não participação na reunião com os três países do BRICS, espaço de concertação política, diminui a presença brasileira no conhecimento das principais decisões do agrupamento, bem como de outros assuntos de política internacional. A diplomacia brasileira perde força pelo não investimento nos seus instrumentos básicos, o diálogo político. Em especial, se levar em consideração a importância de chineses e russos na geopolítica mundial, e em específico, na crise da Venezuela. O país perde a oportunidade em investir força e energia para ser o player que faz a ligação entre interesses divergentes dos americanos e rivais no litígio venezuelano.

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